sexta-feira, 5 de outubro de 2012

O Fantasma e o conselheiro

Quanto tempo ainda tenho antes de ele me encontrar? Talvez hoje, talvez daqui a um mês, não sei quando, mas eu sei que ele vai me alcançar.

Não lembro quando e como cheguei nessa cidade, mas desde então nunca mais consegui voltar. Não lembro onde morava, não tenho nenhuma lembrança de família ou amigos. Os dias não são muito claros aqui, não há muitos casas ou lojas aqui. Mas há muita gente. Não gostam de conversar comigo, assim como não gosto de conversar com eles, no máximo nos toleramos mutuamente. Não é um lugar muito agradável.

Vaguei por muito tempo acreditado estar preso neste lugar, mas nunca encontrei fronteiras ou muros. Pode alguém estar preso sem nunca ter visto sua prisão?

Lembro-me do dia quando o "conselheiro" fez aquele pronunciamento, ele é a coisa mais próxima que temos um líder ou prefeito, mesmo tendo poucas tvs e rádios aqui quando ele fala todos param para escutar. Ele sempre usa roupas finas com sapatos bonitos. Pouco antes de ele falar ouvimos todos o TAP TAP TAP que os sapatos dele faziam pelo som dos aparelhos.

O conselheiro falou sobre um fantasma terrível que vagava por essas terras e já havia levado muitos de nós. Uma vez que alguém se encontravam com esse fantasma nunca mais era visto. Ele falou para todos tomarmos cuidado, mas não lhe dei muita atenção na hora, achava q aquilo estava distante de mim.

Ate o dia em que o fantasma veio atrás de mim.

Eu vagava pela rua quando ele apareceu, em plena luz do dia. Seu brilho fantasmagórico fez com que todos corressem, mas ele não tinha vindo atrás de outro, tinha vindo por mim.

Sua face borrada abrindo e fechando a boca, suas mãos brancas de esticavam em minha direção. Ele falava alguma coisa, mas não podia nem queria ouvir, então corri. Como continuei correndo por muito tempo, apesar disso ele parecia não desistir da ideia de me pegar. Não vou, não vou com ele.

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Hoje, novamente o fantasma apareceu e tentou me levar, mas eu estou preparado.

Procurei o conselheiro alguns dias antes e ele me prometeu abrigo, me colocando em uma casa distante no lado mais profundo da cidade, onde o fantasma não poderia me alcançar. 

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"Naquela casa o homem achou que havia escapado de uma vez por todas de seu destino.

Mas no fim das contas o fantasma veio... Olhou para ele e foi embora.

O homem estava aliviado por aquilo, quando ouvi os passos por perto. Era o conselheiro.

TAP TAP TAP

"- Está feliz que ele não te levou?" Ele perguntou.

O homem disse que sim "afinal quem desejaria morrer?"

Mas o conselheiro deu uma gargalhada.

TAP TAP TAP

"- Vejo que você está esquecendo-se de algumas coisas, não se morre duas vezes."

O homem percebeu aterrorizado que o conselheiro não estava usando sapatos, havia cascos no lugar de seus pés. Ele sorriu.

"- Tolinho, não percebeu? Ele tinha vindo salvar você daqui."

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