Você
conhece uma manga japonês chamado Parasyte (Parasita)? Ele é quase que
completamente desconhecido no Brasil, mas no Japão é considerado uma obra-prima
entre os mangas de terror e é, ainda hoje, fonte de inspiração para muitas
franquias.
Parasyte
foi escrito por Hitoshi Iwaaki e publicado entre 1990 e 1995. A história gira
em torno de Shinichi Izumi, um jovem de 17 anos que vive com a mãe. A obra começa
mostrando vermes caindo na Terra vindos do espaço durante a noite e entrando na
cabeça das pessoas pelas orelhas enquanto dormem.
Em
poucos minutos esses vermes se fundem com o cérebro, matando o hospedeiro
original e tomando o controle de seus corpos. Poucas horas depois essas pessoas
levantam-se e devoram friamente o resto de suas famílias. Esses parasitas, que
sempre permanecem na cabeça do ser vivo, conseguem se deformar e assumir
qualquer forma ou rosto. Também podem endurecer e criar lâminas e escudos para
se defenderem e alimentarem-se.
Pela
manhã o jornal começa a noticiar chacinas por toda cidade. Várias pessoas
desaparecidas, e uma grande quantidade de famílias encontradas destroçadas em
suas casas. É apenas o início de uma história sem muita perspectiva de final
feliz.
Um Parasyte
pousou no quarto de Shinichi Izumi, mas o jovem estava usando fones de ouvido
enquanto deitado, por isso o verme não pôde entrar em seu cérebro. O jovem
chegou a acordar e tentar se defender do parasita, porém o verme adentrou o
tecido que conseguiu alcançar, seu braço direito. Por não ter sentido qualquer
dor, o garoto acaba se convencendo que tudo aquilo foi um sonho.
Logo
Shinichi descobre que algo aconteceu. No dia seguinte seu braço adquiriu
consciência e agora é um tecido amorfo, que pode conversar com o garoto e tomar
formas variadas de armas e outras habilidades ainda mais bizarras. Sendo um dos
raros casos de Parasyte que ainda detém a consciência do portador original, o jovem inicialmente se revolta por ter quase ter tido seu cérebro devorado,
mas não há muito tempo para refletir sobre isso. Infelizmente para ele, os
demais Parasytes da cidade percebem que Shinichi não é como eles, e decidem
exterminá-lo. Cabe ao jovem descobrir como trabalhar em equipe com o parasita
de seu corpo e sobreviver aos ataques constantes que se sucederão nos próximos
meses.
Logo de
início, gostei muito de como o autor desenvolve o enredo de Parasyte. Você
sente como se estivesse assistindo um filme de terror, daqueles bem trágicos.
De cara somos apresentados à uma criatura do espaço implacável e irastreável,
que trata humanos como ração.
A
própria relação de Shinichi com o Parasyte de sua mão direita, chamado de
“Migi” (direita em japonês) é bem conturbada. O jovem o odeia por quase o
devorar e por torná-lo uma aberração, ao mesmo tempo, o Parasita se defende sob
o argumento que é um ser vivo lutando para se desenvolver e que ele mesmo não
tinha consciência da época que era um verme nem nasceu daquela forma por
escolha própria. Ele irá proteger Shinichi, mas não por qualquer empatia
consciente, apenas porque se o garoto for morto, ele morre junto. É como se os vermes fossem uma nova classe de ser vivo, adaptando-se às várias situações e
tentando conquistar o espaço tomado pela raça dominante do planeta, o homem.
Os vermes
possuem algumas limitações. Eles só podem se alimentar do mesmo tipo de animal
com que se fundiram (por alguma espécie de necessidade genética) e não podem
passar por nenhuma máquina de raio-x, senão a falta de ossos da cabeça fica
completamente exposta. Mesmo tão fortes, eles ainda estão ligados ao corpo que
possuíram. Um dano no coração ou demais órgãos pode fazer um parasita morrer,
por isso eles preferem se manter ocultos da sociedade.
Conforme
avança frente às batalhas e calamidade que encontra, Shinichi acaba por aceitar
sua nova condição e decide eliminar todos os parasitas que encontrar, para
proteger a raça humana. Parasyte é uma obra fascinante por sempre fazer você
pensar em qual é a linha que separa a sua consciência como criatura daquela que
te torna humano. Chega um ponto na história onde Shinichi realmente não
consegue mais se considerar humano. Ele se torna tão poderoso e distante que
acaba de afastando de todos os humanos, e pouco-a-pouco perdendo a empatia por vê-los
serem mortos ou devorados. A pouca ligação que ele possui com a humanidade, e a que ele se apega, na forma de
sua mãe e de alguns namoricos, normalmente são retirados dele em meio ao caos e tragédias dessa nova vida. No final Shinichi entende que evoluir significa estar sozinho
e a responsabilidade estressante de ser um adulto tentando sobreviver. Existe
uma grande mensagem sobre maturidade e sobre como encarar a vida.
É o tipo
de história de você começa a ler desprenciosamente, mas conforme avança percebe
que te faz refletir sobre o egoísmo da evolução e sobre o quanto a importância
de sobreviver passa por cima dos sentimentos dos outros seres vivos. Afinal,
qual a diferença essencial entre ser um humano que caça e mata outros animais
para sobreviver com ser um Parasyte que caça e mata o ser humano para
sobreviver?
Cuidado!
Spoilers à frente!
Eu
disse para você que não havia muita perspectiva de final feliz. No fim da
história a humanidade descobre uma forma de lutar contra os Parasytes e até
consegue desmantelar os maiores grupos deles, mas erradica-los torna-se impossível.
Umas poucas centenas de Parasytes restante (os mais discretos e inteligentes) ainda
continuará sobrevivendo e devorando humanos escondidos. Felizmente eles nunca
serão um número grande o suficiente para dominar a Terra.
Agora a parte interessante! Se você
ler Parasyte até o fim perceberá que muitas obras atuais se inspiraram em vários
conceitos na cara dura, irei citar algumas aqui.
O
Guarda Real Menthuthuyoupi, da obra Hunter x Hunter, deforma o próprio corpo e
transforma os braços em tentáculos com foice na ponta. Uma referência clara às
batalhas de tentáculos de Parasyte.
As transformações nos braços de Alex Mercer em Prototype (inclusive em tentáculos) em muito se assemelham às transformações em Parasyte.
Tentáculos de foice? Cachorros que dividem a cabeça ao meio? Braço mutante que se transforma em um escudo? Qualquer
semelhança é mera coincidência...
E por
falar em cachorros com cabeça se dividindo, alguns aqui devem se lembrar do boss
Sheeva, do jogo Parasite Eve. A cena da transformação foi Inspirada claramente
em Parasyte.
Li
Parasyte até o fim e recomendo fortemente para todos os fãs de ação e terror. É
uma obra recheada de Gore e ação ininterrupta, mas que ao mesmo tempo explora
bem o lado humano e os pensamentos mais profundos que tornam o ser humano
egoísta. Confiram os links abaixo.
Link
para o manga (somente em inglês):
3 comentários:
Obrigado por voltar com as postagens, mesmo que já faça um tempo que não sai algo de novo no blog, mas eu entendo. E como essa postagem foi incrível! Completa, cheia de detalhes, extremamente profissional. Obrigado!
Fantástico! Terminei a leitura do mangá, estou assistindo ao anime e logo verei o Live-Action! Mil agracecimentos pela excelente indicação e análise, bom amigo!
Estou sempre revisitando sua maravilhosa página, de conteúdo ímpar.
Abraços de um velho leitor!
Muito bom
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